domingo, 31 de julho de 2011

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Chove forte na marquise e gotas respigam janela adentro. Aos poucos o dia amanhece. Lúcia, há muito acordada, espera. Confusão de estampas na boca da janela: um vestido de mangas compridas, uma cortina florida, um pano que encobre os rasgos do sofá. A luz emana leve do abajur ao canto da sala, de modo que há apenas uma estampa formada das outras tantas, naquele quase escuro ou quase claro. Pode um esperar carecer de esperança? O rádio soa ao fundo. Tudo é estático naquela casa. Há apenas o chiado ondulado do rádio rompendo o silêncio e a fumaça que faz cinema do bico da cafeteira italiana.  A noite formada na fumaça. O homem, o silêncio, o sapato, o estalar agudo dos passos, a porta. Depois o letreiro, o escuro, a calçada, os passos, a neblina, a buzina. Lúcia interrompe o fogão antes de qualquer notícia. Na caneca, o café espera o açúcar.

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